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“Agosto Verde” de prevenção à leishmaniose: como a PMU lida com a prevenção e o enfrentamento da doença
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Profissionais de saúde pública, especialmente dos meios veterinários, adotaram o "Agosto Verde" como ponto no calendário para divulgar medidas de prevenção, controle e combate à leishmaniose visceral canina. O objetivo é conscientizar os proprietários (tutores ou responsáveis legais) a proteger seus cães e fazerem testes ao menos duas vezes por ano. Na cidade, o cão é o principal reservatório do protozoário causador da leishmaniose e não transmite diretamente a doença. No entanto, ao picar o cão infectado e adquirir o protozoário, a fêmea do mosquito palha passa o microrganismo para frente ao picar outros cães (1 mosquito pode infectar mais de 6 cães) ou mesmo o ser humano. E a zoonose vai se espalhando. A leishmaniose visceral canina não tem cura no animal e é grave quando acomete o humano, podendo mesmo ser fatal em crianças e idosos.

 

O alvo da campanha, porém, não é somente quem tem um cão de estimação. A outra parte (da campanha) é direcionada à sociedade, pois o mosquito palha (birigui) precisa de um ambiente adequado para se proliferar: folhas secas, fezes de animais, frutas que caem e vão apodrecendo, umidade. A recomendação, então, é manter os quintais limpos. "Com os quintais limpos, prevenimos a dengue e a leishmaniose", compara a veterinária do Centro de Controle de Zoonoses de Unaí, Juscely Carolina Carneiro.

 

CÃO NÃO É TRANSMISSOR

 

Carol, como a veterinária do CCZ prefere ser chamada, lembra que a leishmaniose visceral canina não "pega" no contato direto com o cão. "Encostar no animal, ou o animal lamber, não vai haver transmissão. Precisa da picada do mosquito, que é o vetor de transmissão", ela explica.

 

O mosquito palha, ou birigui, mede aproximadamente 2 milímetros, tem cor marrom-amarelada e o hábito de circular no final da tarde, seu horário de maior atividade, período que as pessoas devem evitar de passear com os cães. Se o fizerem, a recomendação da médica veterinária é que ponham uma coleira repelente no cão.

 

"Usar a coleira é uma medida muito interessante. Ela possui uma substância repelente chamada Deltametrina. Dura de 4 a 6 meses e não precisa tirar nem para o animal tomar banho", explica a veterinária. "Tem apresentado bons resultados".

 

UNAÍ: TRANSMISSÃO MODERADA, MAS ALTA PREVALÊNCIA

 

Apesar da classificação estadual considerar Unaí como de transmissão moderada para leishmaniose (numa escala que possui as classificações altíssima, alta, moderada, baixa e baixíssima), Carol vê a prevalência dos casos como bastante expressiva.


Dos 1.276 cães examinados no período de janeiro de 2020 a julho de 2021 no Centro de Controle de Zoonoses – órgão da Secretaria de Saúde de Unaí – 176 resultaram positivo para a leishmaniose. Em 2020, dos 573 examinados, 110 foram positivos. Em 2021 (até julho), dos 703 cães testados, 66 foram positivados.

 

Por que, em 2021, foram feitos até o meio do ano mais exames, e muito menos resultados positivos? Para Carol, isso pode ser explicado pela alta demanda espontânea que ocorreu no ano passado. "Quando a pessoa resolvia trazer no CCZ, os cães já chegavam com sintomas agravados. Por isso, a quantidade de positivados", justifica.

 

TESTES RÁPIDOS

 

Estima-se que 60% dos cães infectados com o protozoário não apresentem sintomas da leishmaniose visceral. Por isso, segundo Carol, a melhor forma de controle é por meio de testes.

 

A médica veterinária do CCZ recomenda que sejam feitos testes de detecção da leishmaniose no cão pelo menos duas vezes ao ano. O Centro de Controle de Zoonoses de Unaí oferece o teste rápido gratuitamente, de segunda a quarta, de 7h as 10h e de 13h as 16h (recomenda-se que ligue antes no 3676-4615, para evitar imprevistos).

 

O tutor (ou responsável legal) pelo cão que procurar o CCZ para a realização do teste de detecção deve ser maior de idade e apresentar no ato o documento de identidade e o CPF. O laudo será emitido no nome dessa pessoa. O teste rápido, com resultado em 15 minutos, é feito por meio da coleta de uma gota de sangue da orelha do animal.

 

A médica veterinária do CCZ chama a atenção de quem desconhece o problema: "se você tem cachorro com leishmaniose em casa, e não sabe, está pondo em risco sua família, você mesmo, seus vizinhos. Enfim, está pondo em risco a saúde pública", adverte.

 

DEU POSITIVO! E AGORA?

 

Se o resultado do teste deu negativo, o tutor leva o laudo assinado na hora para casa. Se o reagente der positivo – ou suspeito, conforme Carol –, será coletado mais sangue do animal para a feitura de exame confirmatório. O laboratório de referência fica na Funed (Fundação Ezequiel Dias), em Belo Horizonte, com resultando em torno de 15 dias.

 

"O Ministério da Saúde considera resultado positivo para leishmaniose canina o que der reagente no teste rápido e reagente na sorologia. Precisa ter o exame confirmatório. Em caso negativo, na própria triagem é liberado o laudo para o dono ou tutor", explica a veterinária.

 

Depois dos dois resultados positivos, os agentes públicos do CCZ vão ligar para o tutor e comunicar o procedimento. Em casos do tipo, o Ministério da Saúde preconiza que o cão seja eutanasiado. Então, os agentes pedem autorização para entrar na casa e levar o cão doente.

 

"A eutanásia só pode ser feita com autorização expressa (escrita) do proprietário – conta Carol – "porque o poder público não pode entrar na casa de ninguém para apreender o cão e retirar à força do local. Isso não existe".

 

Quando devidamente autorizados, os agentes do CCZ recolhem o animal e transportam-no pela carrocinha (veículo adaptado) até o CCZ, no menor tempo possível e sem paradas pela cidade.

 

A eutanásia é parte integrante das políticas públicas para controle da leishmaniose no Brasil. Embora contestada por diversos setores da sociedade, está amparada em legislação federal vigente.

 

"O problema é que as pessoas chegam ao CCZ e querem que a gente faça como elas desejam. E isso não é possível, porque temos de seguir a legislação e os protocolos", desabafa Carol, ao observar que os procedimentos não são feitos da cabeça dos agentes públicos municipais.

 

A eutanásia, por exemplo, é feita com base em protocolos expedidos pelo Conselho Federal de Medicina Veterinária. "A gente não permite maus-tratos a esses animais que serão eutanasiados. É tudo feito sem dor, de maneira respeitosa: primeiro, o cão toma uma anestesia, depois é aplicada uma medicação que vai causar a parada cardíaca", afirma Carol, lamentando que é preciso fazer isso, pois é o preconizado como política de saúde pública. "Minha equipe é composta por pessoas que gostam de animais. Então, a gente tem respeito pela vida e pela morte".

 

O descarte do corpo é feito numa fossa séptica usada pela Secretaria Municipal de Saúde.

 

E SE O TUTOR SE NEGA A ENTREGAR O CÃO?

 

Se o tutor decidir não entregar o animal para eutanásia, aí ele precisa assinar um termo de recusa, que deve ficar documentado. Mais um protocolo do Ministério da Saúde. Tanto a autorização, quanto a recusa, devem estar documentadas por escrito. "Nada disso é da nossa cabeça. Tudo está no escopo das leis do país", Carol reitera.

 

MAS, NÃO TEM TRATAMENTO?

 

Carol conta que a leishmaniose não tem cura no cão, mas tem um tratamento (paliativo) para tentativa de controle do protozoário, somente permitido no Brasil com o uso de uma droga chamada Milteforan. O tratamento é todo feito na rede particular de veterinária, não se trata de política pública e depende de consultas e exames com veterinários, aquisição de medicamentos e outros gastos. E é preciso identificar se o animal vai suportar o tratamento.

 

"Esse animal precisa fazer acompanhamento com o veterinário pelo resto da vida, porque a leishmaniose não tem cura. O tratamento é paliativo, porque teoricamente reduz a carga do protozoário no organismo do cão", observa Carol. "Estudo revelou que apenas uma parcela dos cães tratados reduziu sua capacidade de infectar. Não é garantia. Por essa razão, o tratamento dos cães doentes não se configura como medida de saúde pública".

 

Ela acrescenta ainda que há uma vacina autorizada no Brasil chamada Leich-Tec. "Como medida individual é indicada, mas não como medida de prevenção coletiva ou de saúde pública", antecipa a veterinária. Ela explica que a vacina tem 70% de eficácia, não é considerada medida de saúde pública e deve ser aplicada somente no animal negativado para leishmaniose. Assim como o tratamento, a vacina só está disponível na rede particular.

 

O uso da coleira repelente, segundo Carol, continua sendo recomendável mesmo durante o tratamento (ou controle do protozoário) no cão.

 

NO CENTRO DE CONTROLE DE ZOONOSES

 

Zoonoses são as doenças transmitidas entre animais e humanos. O CCZ de Unaí não funciona como abrigo, não funciona como clínica veterinária e nem como centro de adoção de animais.

 

No Centro de Controle de Zoonoses ingressam apenas os cães que serão testados, os que serão eutanasiados e, somente nas quintas-feiras cães e gatos que serão castrados. Esta última uma política pública municipal.

 

E tudo isso feito em dias diferentes, a fim de que animais sadios não se misturem a doentes.

 

SINTOMAS NO CÃO E NO HUMANO

 

Os sintomas mais comuns do animal com leishmaniose são unhas grandes, escamações e feridas na pele (principalmente no focinho, ao redor dos olhos e na ponta das orelhas), emagrecimento intenso, lesões oculares. "Quando apresenta esses sintomas, o cão já está mal", observa a veterinária. "Então o Ministério da Saúde preconiza a eutanásia como medida de saúde pública.

 

No humano, os sintomas mais comuns são diarreia, febre intermitente, inchaço do abdômen devido ao aumento do fígado e do baço, fraqueza muscular, perda de peso, anemia.


Caso apresente algum dos sintomas, o paciente deve procurar imediatamente a unidade de saúde mais próxima de sua casa. o diagnóstico e o tratamento são gratuitos.

 

Em Unaí, dois casos de leishmaniose foram registrados em humanos em 2021, foram tratados e os pacientes reagiram bem. A letalidade em humanos tratados é de 5% a 12%. A leishmaniose, no entanto, pode ser fatal quando acomete crianças e idosos.

 

Quando ocorre um registro de paciente infectado, o CCZ é notificado, e uma ação de bloqueio sanitário é feito em torno da casa desse paciente. Inseticida é borrifado nos quarteirões em volta.

 

De acordo com a veterinária do CCZ, é feito ainda um inquérito local, com pesquisa de reservatórios de casa em casa nos quarteirões vizinhos. "Fazemos exames em todos os cães, buscando possíveis reservatórios". Os procedimentos e atuação dos agentes estão sob a supervisão da médica veterinária.

 

VIGILÂNCIA ATIVA EM BAIRROS

 

Ações de inquérito canino, com vigilância ativa e aplicação de testes (para detecção de leishmaniose) vem sendo feitas desde o início do ano no bairro Novo Horizonte. Ocorrem de segunda a quarta, de manhã e à tarde, de casa em casa.

 

Os inquéritos e testes são feitos por equipe treinada e supervisionada pela médica veterinária. Nessa ação de vigilância ativa, são feitos os testes rápidos. Lá mesmo entregam os laudos dos cães negativados. Cães com resultado positivo têm o sangue colhido na hora para envio ao laboratório, para confirmação (ou não) da suspeita.


"Nessas ações de vigilância ativa, se a pessoa se recusar a entregar o animal para o teste, isso também é documentado pelo poder público", explica Carol.

 

Depois de terminar a ação no Novo Horizonte, o objetivo é estender o benefício para os bairros Mamoeiro e Santa Clara, segundo explica a veterinária do CCZ. "A escolha dos bairros não é aleatória. Há uma maior prevalência de cães infectados nesses locais. E são bairros mais distantes do CCZ. É mais difícil das pessoas trazerem os cães aqui".

 

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Médica veterinária do CCZ colhendo gota de sangue da orelha do cão para o teste rápido

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Testes de leishmaniose devem ser feitos pelo menos duas vezes ao ano

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Testes gratuitos são feitos de segunda a quarta no CCZ, das 7h às 10h e das 13h às 16h

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Teste com resultado negativo

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Teste com resultado positivo, ou suspeito, requer um teste de confirmação em laboratório


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