Venezuelanos pedintes nas ruas de Unaí são indígenas Warao, estavam num hotel e vivem em abrigo no Distrito Federal

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Os venezuelanos chegaram a Unaí há cerca de duas semanas. Vieram em busca da "coleta", como chamam o dinheiro e as doações que recebem nas ruas, geralmente em esquinas movimentadas e com semáforo, onde abordam motoristas. Parte do dinheiro que conseguem é usada para pagar o hotel onde ficam hospedados. Outra parte, juntam para enviar aos familiares e parentes na Venezuela, a fim de trazê-los para o Brasil. Depois de receberem muitas doações em Unaí, deixaram o município na manhã desta quinta-feira, 6/5, e seguiram em direção ao espaço rural onde estão acolhidos em São Sebastião (DF).

 

Portanto, os venezuelanos não estavam em situação de rua em Unaí, não estavam passando fome, estavam hospedados em um hotel na avenida Governador Valadares e se alimentando frequentemente. Uma cozinheira, no hotel, preparava o que apreciam: arroz, frango e um alimento típico de onde vieram, à base de trigo. No registro do hotel em Unaí, eram 17 adultos e 7 crianças (incluindo um bebê nascido 20 e poucos dias atrás). A diária do hotel era paga todas as tardes. De acordo com a dona do hotel, o grupo, que se desconfia sejam todos de uma mesma família (irmãos, tios, primos) é bem organizado.

 

A base desse grupo no Brasil é a cidade satélite de São Sebastião, onde vivem num espaço de acolhimento denominado Raio de Luz, sob coordenação socioassistencial da Cáritas Arquidiocesana de Brasília e o apoio do Governo do Distrito Federal, por meio da Secretaria de Desenvolvimento Social (Seds-DF). Nesse espaço, a que eles mesmos referem como "campo de refugiados", estão acolhidos 86 indivíduos da etnia desde o dia 19 de janeiro. Um dos objetivos do programa de acolhimento é oferecer espaço rural para que possam efetuar o plantio de hortas e outros afazeres típicos.

 

Os venezuelanos chegaram à capital federal há aproximadamente um ano e, inicialmente, ficaram acampados em barracas montadas nos arredores da Rodoviária interestadual. Hoje, estão todos documentados na condição de refugiados, e os adultos já receberam as duas doses da vacina contra a covid-19. No abrigo, recebem alojamento, escola e acesso à saúde. De 15 em 15 dias, as famílias abrigadas ganham uma cesta de alimentos.

 

Os profissionais da Cáritas não têm instrumentos legais para impedir que os refugiados deixem o abrigo, ou voltem, quando bem entendem. Por isso, vez por outra eles saem para os municípios do entorno. Um dos grupos foi mais longe: está em Campinas, interior de São Paulo. O objetivo é sempre o mesmo: fazer a coleta, ou seja, obter ajuda em dinheiro ou em gêneros alimentícios, roupas, entre outros.

 

Mas, nem sempre a destinação é a correta. De acordo com informações obtidas, as cestas básicas que ganharam em Unaí, por exemplo, tentaram vender por aqui mesmo. Ofereceram, inclusive, para a dona do hotel, que rejeitou de pronto e os repreendeu de que "aquilo não era certo". As que não conseguiram vender por aqui, disseram que teriam comprador certo para elas em Brasília.

 

Numa das tardes, um táxi (chamado pelos Warao) estacionou em frente ao hotel e levou tudo o que ganharam em Unaí. Não se sabe bem para onde levaram. Chamou especial atenção a calçada do hotel. Ficou apinhada de alimentos e roupas.

 

Essas e outras informações foram repassadas durante reunião em que participaram a secretária de Desenvolvimento Social, Cláudia de Oliveira, agentes da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social e Cidadania de Unaí (Semdesc), conselheiros do Conselho Tutelar de Unaí e agentes do Centro de Referência Especializada de Assistência Social (Creas), órgão da Semdesc. O cacique do grupo falaria na manhã desta sexta (7/5) com a secretária Cláudia e agentes da Semdesc, mas o grupo foi embora antes.

 

Os profissionais unaienses conversarão com os colegas da Secretaria de Desenvolvimento Social do DF, em Brasília, buscarão mais informações e vão elaborar um relatório técnico que será enviado ao Ministério Público.

 

Um dos relatórios abordará a questão dos direitos humanos (ir, vir, entrar, sair) e o outro fará referência às crianças das famílias venezuelanas, que estavam sendo usadas para pedir esmola ou vender balas nas ruas. A legislação brasileira não permite isso, e eles foram avisados dessa proibição. Conselheiros tutelares de Unaí os abordaram e os advertiram sobre o crime.

 

ACOMPANHADOS DE PERTO

 

A estada dos warao em Unaí chamou a atenção, e logo agentes do Creas foram buscar as respostas, para conhecer a real situação do grupo. Arredios, alguns deles deram poucas informações, evitaram uma conversa mais consistente. As agentes, então, procuraram a dona do hotel, e os fatos foram ficando mais claros.

 

Uma das agentes resolveu pesquisar a história deles no DF e aí tudo se aclarou de vez. Descobriram onde estavam abrigados. Fizeram contato. Em conversa com o coordenador do abrigo, em São Sebastião, as agentes desvendaram mais fatos da estada dos warao na região de Brasília, desde que vieram da Venezuela, um ano atrás, fugindo da crise política e humanitária.

 

TRABALHO E COMIDA


Quando ainda não sabiam da real situação dos venezuelanos em Unaí, as agentes do Creas até que aventaram a possibilidade de eles conseguirem uma vaga de trabalho, checando as listas do Sine. Por se tratarem de indígenas, ou seja, pouco afeitos a horários e aos nossos costumes, rejeitaram de pronto. Conversando com o coordenador do abrigo, as agentes descobriram que nenhum indivíduo do grupo conseguiu inserção no mercado de trabalho, devido às características relativas a costumes e hábitos (horários, cumprimento de exigências, etc.) desses povos.
A alimentação também é outro fator de desintegração.

 

Segundo informações obtidas, eles teriam predileção por arroz, frango e um alimento típico à base de trigo. Feijão, frutas, verduras e outros gêneros da nossa culinária não os interessa. Jogam fora (iogurte, leite, entre outros), sem pestanejar. Já coca-cola, tomam aos montes. Pediram à dona do hotel para colocar fardos do refrigerante na geladeira. Por isso, o insucesso dos marmitex que recebiam em doação, pois só servia quando tinha arroz e frango. O resto ia para o lixo. Fazem dinheiro com muita coisa que ganham. O pior, segundo a legislação brasileira: usam crianças para isso.

 

UNAÍ SOLIDÁRIA

 

A solidariedade da população de Unaí, que ajuda quem precisa, embora aparentemente seja uma boa ação, preocupa profissionais da assistência social. Elas temem, por exemplo, que o grupo volte a Unaí e vá ficando. No Distrito Federal, há estrutura e programas para acolhimento de refugiados, diferentemente de Unaí.


Essa solidariedade unaiense acaba atraindo pedintes e até gente que procura a cidade todos os meses, para esmolar. Já há até pessoas conhecidas da Assistência Social, como uma família que vem de Luziânia (GO) todos os meses. Eles vêm de carro e ficam acampados nas imediações do Mart Minas. "Devem conseguir o objetivo, porque voltam sempre", diz uma agente.

 

Para os profissionais da assistência social, dar esmolas nas ruas não é uma boa política. O ideal é que as pessoas procurem as entidades que fazem esse repasse para quem necessita. Sociedade São Vicente de Paulo, Centro Educacional do Menor (CEM) e Associação Unaiense de Desenvolvimento e Cidadania (Audec) são entidades registradas oficialmente e citadas pelas profissionais como destinação correta de doações. De lá as doações da sociedade seguem igualmente para quem precisa.

 

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