Saúde reúne médicos e enfermeiros para capacitação sobre dengue

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A capacitação sobre manejo adequado da dengue em Unaí ocorreu no auditório da Câmara Municipal, nessa sexta-feira (9/11). A médica infectologista Natali Nicolino foi a responsável por passar as informações sobre os protocolos adotados para o atendimento dos pacientes em casos de dengue (suspeitos e constatados). Médicos e enfermeiros do Hospital Municipal, da Policlínica e das unidades de saúde da família (PSFs) foram o público-alvo da capacitação.

 

A infectologista falou por pouco mais de uma hora sobre o tema "Dengue: aspectos clínicos, diagnóstico diferencial e tratamento", a fim de já preparar as equipes para efetuar atendimentos emergenciais. As ações da Secretaria Municipal de Saúde são uma resposta rápida ao avanço dos casos de dengue que este ano apareceram mais cedo, diferentemente dos anos anteriores. Avanços de casos em Unaí foram registrados somente na epidemia de dengue em 2015, com ocorrências mais intensas no mês de abril.

 

Paralelamente, a Secretaria Municipal de Saúde prepara um plano de contingência para o enfrentamento de uma epidemia. Caso ocorra, equipes deverão estar capacitadas. Estão sendo definidos, inclusive, os postos de PSF que serão referência para o atendimento da população. Em caso de necessidade, poderão também funcionar em horário diferenciado, para não estrangular o atendimento do Pronto-Socorro.

 

Dengue

 

Natali Nicolino abriu sua apresentação falando sobre os aspectos gerais da dengue: doença viral, dinâmica, sistêmica e que possui os sorotipos 1,2,3 e 4. Segundo ela, cada pessoa pode contrair a dengue até quatro vezes. Lembrando que toda vez que contrair um sorotipo, fica imune a este, adquirindo imunidade permanente. Porém, quando essa mesma pessoa se expõe a outro sorotipo, pode ter a doença de forma mais grave.

 

No mundo, ela conta, são 2,5 bilhões de pessoas vivendo em áreas de risco para transmissão da dengue. São registradas 100 milhões de pessoas infectadas anualmente. Dessas, 20 mil morrem todos os anos, em consequência da dengue. "Na maioria dos casos de dengue, é mais frequente a remissão (abrandamento) dos sintomas. Mas, a doença pode agravar, exigindo constante reavaliação e observação atenta do paciente", ensina a infectologista.

 

Grupos de pacientes


Para efeito de atendimento e tratamento, os pacientes são divididos em quatro grupos (A, B, C e D). A maior parte dos pacientes está caracterizada nos grupos A e B, que podem ser cuidados no ambulatório (unidades básicas, fora do hospital). Nos grupos C e D, o paciente precisa ser hospitalizado. No mais grave, o grupo D, é comum a remoção do paciente para uma Unidade de Tratamento Intensivo (UTI).

 

A classificação de risco é feita na triagem do paciente pela equipe de enfermagem. "Algo que é muito importante, deve ser feito com bastante critério. Porque essa fase vai direcionar o atendimento médico", ressalta. De acordo com a médica, o grupo A pode aguardar atendimento, de acordo com o prontuário de chegada. O grupo B tem prioridade não urgente. O grupo C requer o atendimento mais rápido possível e o grupo D precisa de atendimento emergente e imediato. Por isso, ela explica, "a triagem do paciente deve ser muito bem feita, para que o atendimento seja adequado conforme o caso".

 

Grupo A


O paciente suspeito chega sem sintomas ou sinais de alarme e não possui nenhuma doença associada. O médico detecta o caso e pode (ou não) requerer exames complementares, transcreve paracetamol ou dipirona para aliviar a febre (que já começa alta na dengue). Ele ainda orienta repouso ao paciente e prescreve hidratação oral. A hidratação do paciente deve ser feita durante todo o período da febre e mantida até 48 horas após o fim da febre. A alimentação não deve ser interrompida durante a hidratação do paciente. Para os casos infantis, O aleitamento materno também deve ser mantido e estimulado.

 

Grupo B


O paciente suspeito não apresenta sinais de alarme, mas tem sangramento espontâneo ou induzido. Ocorre mais frequentemente com pacientes lactantes menores de dois anos, idosos acima de 65 anos, gestantes, doentes cardiovasculares ou pessoas com diabetes melitus, hipertensos, doentes renais crônicos, hepatopatas (doentes do fígado) e portadores de doenças autoimunes.


Os exames complementares são obrigatórios, principalmente o hemograma, cujo resultado deve ser entregue em, no máximo, quatro horas após sua realização. A partir daí, outros exames serão exigidos conforme critério médico.


Deve ser prescrita hidratação oral, enquanto o paciente aguarda o resultado dos exames. O tratamento é de cunho ambulatorial, com avaliação clínica diária. A reidratação clínica laboratorial deve ser mantida até 48 horas após o término da febre.


No caso de aumento de hematócrito (detecção de anemia, desidratação e doenças no coração) ou piora de sinais, o paciente vai para o grupo C e encaminhado para o Hospital Municipal. Sem os sinais de alarme, retorna para o A e é tratado ambulatorialmente.

 

Grupo C


O paciente apresenta alguns sinais de alarme (dor abdominal intensa e contínua, vômitos persistentes, acúmulo de líquidos, sangramento de mucosas, aumento progressivo de hematócritos, queda de plaquetas, entre outros). Se o paciente chegar ao PSF, a enfermeira vai avisar o médico, iniciar a hidratação do paciente (até a ambulância chegar) e providenciar o encaminhamento para o Hospital Municipal.


Os exames complementares são obrigatórios. Conforme os sintomas do paciente, ministrar soro intravenoso, e o paciente deve permanecer em observação em leito de internação por, no mínimo, 48 horas.


Deve ser feita a hidratação venosa com soro fisiológico e monitoramento da diurese. Se não houver melhora dos sinais e do hematócrito, o paciente deve ser conduzido para o grupo D, de pacientes mais graves.


No caso de melhora dos sinais, iniciar a fase de manutenção. Se continuar melhorando, encaminhar para o grupo B.

 

Grupo D


Mais grave, o paciente apresenta sinais de choque, sangramento maciço e disfunção grave de órgãos. "É um paciente de UTI", explica a infectologista. Esses pacientes precisam ser monitorizados. Enquanto aguarda a transferência para unidade intensiva, deve-se iniciar imediatamente a aplicação de soro fisiológico. Enquanto isso, observação contínua do paciente.

 

Exame de hematócrito repetido a cada duas horas. Se houver melhora clínica, volta o paciente para o grupo C. Se a resposta for inadequada, prepara o tratamento para situações de choque. E observar se há hemorragia, fazer exames e avaliação clínica contínuos.

 

Em caso de sinais de gravidade, sem choque, conduzir o caso de acordo com a situação clínica do paciente. Os profissionais devem permanecer o acompanhamento em leito de UTI até a estabilização do paciente (normalmente em 48 horas). E, depois, fazer o acompanhamento em leito de internação hospitalar por mais 48 horas.

 

Gestantes

 

Paciente automaticamente caracterizada como do grupo B, porque já está em "situação especial". É obrigatório cobrar o hemograma. Neste caso, há risco aumentado de parto prematuro, óbito fetal, sofrimento fetal agudo e hemorragia. Os sinais tendem a aumentar quando a mulher está prestes a ter o bebê.


Alterações relacionadas ao extravasamento plasmático podem demorar a aparecer, ou até não aparecer, e isso vai confundir o médico, por conta das alterações fisiológicas da gravidez.

 

O tratamento clínico é semelhante à reidratação do paciente comum. Se houver alterações, a grávida deve ser encaminhada para os grupos C e D. Independentemente dos resultados dos exames laboratoriais, as gestantes devem ser encaminhadas para o hospital, onde será feito o manejo clínico.

 

Diversos outros assuntos referentes ao atendimento de dengue foram abordados pela infectologista, terminando com dicas sobre as condições da alta hospitalar.

 

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